Zine Pasárgada
foi um Fanzine cultural e educacional que se propôs divulgar os mais diversos tipos de expressões artísticas e os mais variados assuntos.

O jornal Pasárgada teve 3 edições impressas e distribuídas na cidade de Piracicaba/SP e está guardado, junto com outras idéias, no limbo da falta de tempo e dinheiro.

O blog retomou a proposta do Zine e abriu espaço para diversidade de idéias e de expressões.

Hoje o blog acompanha o jornal e as atividades estão encerradas.

Foi uma grande satisfação ser um dos amigos do Rei.

Fábio

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As pessoas com deficiência e as grades que nos isolam



Créditos da imagem: Renato Bonário


No meu último post falei sobre afeto e introduzi um pouco do que eu penso sobre como as pessoas se afetam, dando como exemplo uma experiência que tive como professor de uma turma no sertão de Pernambuco. E um assunto puxa o outro, não é verdade? Na ocasião, eu estava dando aulas da disciplina Língua Brasileira de Sinais (Libras) para alunos do curso de Letras. Eu trabalho na área de inclusão de pessoas com deficiência, acessibilidade e Libras há alguns anos. Pois bem, para dar continuidade ao meu raciocínio, quero trazer uma reflexão sobre uma parcela da população que às vezes é de alguma maneira invisível para a sociedade: as pessoas com deficiência.

Vou justificar a escolha desta minha foto. Existe um costume no Brasil, talvez também em outros países, de cercar praças públicas com grades como esta. Muitas vezes vemos praças lindas, com um belo projeto urbanístico, mas ao seu redor é colocada uma grade. Qual seria propósito dessa grade? Provavelmente, quem a colocou lembrará do vandalismo nas grandes cidades, e aquela praça precisa ser protegida. Será que isso faz sentido? Qual é a função da praça, afinal? Ela não está ali para que a população possa desfrutar do espaço, do verde, da sombra das árvores? Ao passar pela rua, você apenas CONTEMPLA a beleza da árvore, mas muitas vezes não se sente CONVIDADO a entrar nela. Existe uma grade, e essa grade te faz pensar que a pessoa que a colocou não deseja que você faça uso da praça.

A praça e a árvore servirão metaforicamente para ilustrar minha mensagem de hoje. Você sabia que 17% da população brasileira tem algum tipo de deficiência? São pessoas com deficiência física, intelectual, auditiva, visual e algumas delas com deficiências múltiplas. Mas será que 17% das pessoas de seu convívio são pessoas com deficiência? Provavelmente a porcentagem é bem menor. E qual seria a explicação para você não conhecer, não conviver com as pessoas com deficiência?

Essa parcela da população convive diariamente com uma série de barreiras. Quando falamos em acessibilidade, a maioria de nós pensa imediatamente no aspecto arquitetônico: rampas, banheiros adaptados, ônibus acessível, portas mais largas. Mas existem várias outras dimensões da acessibilidade. Além das barreiras físicas, existem as barreiras sociais. Além do aspecto arquitetônico, existe o comunicacional, o metodológico, o instrumental e o programático (são divisões descritas por autores da área, qualquer dia poderei falar sobre elas). Mas a maior das barreiras, mãe de todas as outras, é a barreira atitudinal. Por conta da ignorância, do medo, do desconhecimento, da percepção de menos-valia, da piedade, construimos diariamente grades (ou muros) ao redor das praças. Da parte das pessoas com deficiência, a existência de tantas barreiras não só atrapalha (ou impede) o acesso delas a bens e serviços como deixa nas entrelinhas a seguinte mensagem: "isto não foi pensado para você, e você não é convidado".

Outro dia reparei que um escritório de advocacia perto da minha casa foi reformado. Depois da reforma, apareceram dois degraus na frente da entrada. Se eu fosse um cadeirante e visse isso, pensaria: "este advogado não me quer como cliente". Outro exemplo: fui comprar o DVD de um filme brasileiro, e quando me dirigia ao caixa, reparei que o produto não apresentava legendas em Português. Vocês acham mesmo que um surdo se sente convidado a CONSUMIR este produto? Ele não foi feito para os surdos. Cansei de ir em palestras dentro da minha área e perceber que a organização não preparou material em Braile para os participantes cegos, não providenciou áudio-descrição e não colocou intérprete de Libras. Se as barreiras estão presentes em eventos da área, imagine então lá fora.

Voltando ao assunto: quantos dos seus amigos são pessoas com deficiência? Dezessete por cento? Qual é a grade que isola sua praça? O desconhecimento? O receio? O que você pensa das pessoas com deficiência? Eis um assunto que dá pano pra manga. Você comentará sobre isso aqui embaixo. E eu voltarei depois pra falar mais sobre isso.

Beijo nas crianças!



Tabuh Paz - http://twitter.com/tabuh

Um comentário:

Tabuh Paz disse...

OBSERVAÇÃO: Meu dia aqui no Pasárgada é quarta-feira, mas cheguei há pouco em casa, então não tive condições... atrasei 27 minutos! :)