Por Ronaldo Almeida.
No início da década de 80, do séc. XX, começou um movimento de resgate da consciência negra. Uma valorização da cultura negra, suas tradições, sua religião. Nesse contexto, foi levantada a questão do sincretismo afro-católico, onde, muitos adeptos do candomblé mais ortodoxos, levantaram bandeiras contra a utilização de imagens de santos católicos dentro dos terreiros e sua associação com os Orixás africanos.
Nos terreiros de Umbanda essa visão de resgate da consciência negra não foi tão forte, mas muitos terreiros e adeptos compraram a ideia de abolir as imagens dos santos católicos dos altares umbandistas e substituí-las pelos elementos característicos de cada Orixá como uma forma de tornar mais "verdadeira" o culto a esses Orixás dentro da Umbanda.
O que notamos nesse processo é que tanto os candomblecistas quanto os umbandistas, só conseguiram enxergar o sincretismo existente em suas religiões na forma de utilização das imagens, porém, não visualizaram as outras formas de sincretismo existentes dentro de seu culto. "Talvez seja mais fácil mudar de roupa do que saber o que vestir".
Com relação ao candomblé, existem outras formas de sincretismo além das imagens, como é o caso do culto de um panteão de divindades que, em sua maioria, tem culto reservado na África, como é o caso do Orisá Sango e do Orisá Ogun. Só que com a vinda dos negros de várias localidades diferentes da África para o Brasil, devido ao tráfico negreiro, vários cultos e divindades africanas acabaram se aglutinando naquilo que conhecemos hoje como candomblé, mas que, em sua origem africana, eram várias formas abrangendo mais de 2.000 Orisás.
O culto do candomblé foi formado por um processo sincrético, embora de origem africana, e, realmente, não caberia ser agregado uma outra forma sincrética, incorporada num processo ou numa tentativa de aculturação do negro pelos padres católicos; de associar as divindades africanas aos santos católicos. É um ponto de vista coerente, pois os Candomblés não absorveram, na adoção das imagens dos santos, os fundamentos cristãos em seu culto ou doutrina. O que não pode ser dito em relação à Umbanda, pois ela, além de adotar a utilização do vínculo das imagens dos santos como representações dos Orixás, também incorporou a mensagem cristã dentro de suas várias formas doutrinárias. Sendo assim, é mais fácil para os Candomblés se desfazerem das imagens dos santos católicos, do que os terreiros de Umbanda, pois se os terreiros de Umbanda retirarem as imagens dos santos, também terão de retirar toda uma mensagem religiosa baseada nas palavras de Cristo.
A retirada de imagens dos terreiros de Umbanda não acaba com o sincretismo afro-católico como muitos assim se referem, mas estaria de bom tom ser chamado apenas sincretismo religioso, pois podem tirar as imagens e colocar, por exemplo, os elementos representativos de cada Orixá, mesmo assim, não acaba com o sincretismo religioso existente dentro da Umbanda. Talvez fique mais difícil a percepção desse sincretismo, mas ela será evidente quando diante de um conga (altar Umbandista), onde antes haviam imagens de santos católicos e que agora são vistos elementos como pedra, ferro, flores...
A Umbanda é uma religião sincrética. Alias, todas as religiões são sincréticas; umas mais, outras menos, mas todas são. Talvez o que a sociedade tenha que entender é que esse sincretismo não faz mau, e é sim, uma característica da Religião de Umbanda, que faz com que ela seja tão dinâmica, tão aberta, tão diversa em suas práticas. É ver o sincretismo como uma qualidade, um diferencial, que fez com que a Umbanda sobreviva como religião e abrisse suas portas a linhas espirituais que antes não existiam, mas que devido ao sincretismo e a diversidade que ela proporciona passaram a ser trabalhadas dentro da Umbanda, como: marinheiros, cangaceiros, baianos, orientais, e ciganos.
Ronaldo Almeida é religioso do Candomblé.
Zine Pasárgada foi um Fanzine cultural e educacional que se propôs divulgar os mais diversos tipos de expressões artísticas e os mais variados assuntos.
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