Eba! Hoje é quarta-feira, meu dia de falar aqui no Zine. Gostei muito dos resultados da minha postagem anterior, de estreia, recebi bons comentários e tivemos boas reações. Professor gosta de interação, não gosta de falar sozinho!
Como professor eu já vivi felizes experiências, e gostaria de iniciar o post de hoje contando uma delas.
Já fui professor de crianças do ensino fundamental, jovens em um curso técnico, pessoas de todas as idades em cursos livres, jovens e adultos universitários, enfim, pessoas das mais distintas faixas etárias.
Ano passado, eu e outros quatro colegas de área executamos a disciplina Libras no curso de Letras da UFPE, na modalidade EaD. E entre as quatro turmas de alunos, fui eu visitar presencialmente a turma do Polo Trindade, uma cidade de 26 mil habitantes distante, distante 10 ou 12 horas de Recife.
A ida foi marcada por uma série de imprevistos, recebi uma orientação equivocada, peguei o ônibus errado e fui largado na beira da estrada, duas horas da madrugada, sozinho, no meio do nada, sem conhecer a cidade. Achei o hotel, e depois de dormir três horas, estava eu em pé para dar as aulas do sábado. Acreditem, foi traumático!
Chegando lá, encontrei a razão da minha viagem: os alunos. A turma em geral é composta por pessoas que moram longe do polo, vivem com quase nenhum dinheiro, enfrentam sérias dificuldades para conduzir seus estudos, mas lutam, superam esses desafios, e não reclamam de nada. E como alunos, nem se fala. Estudantes críticos, que aplicam a teoria que recebem da academia na sua vida prática. Sedentos por conhecimento.
Fiquei profundamente tocado depois do contato com esses alunos. Foi uma experiência transformadora, afinal estou acostumado com outra realidade, alunos que vivem uma condição financeira em geral favorável, morando em Recife, uma cidade grande onde se encontra tudo, e sempre temos aqueles alunos que não percebem essa diferença e vivem reclamando de tudo. Por mais que o professor se esforce para encontrar os melhores textos, planejar suas aulas da maneira mais eficaz possível, chegar na hora, respeitar, ser compreensível, chega aquele aluno espertinho e joga tudo isso no lixo. Se você é professor, sabe bem do que eu estou falando. Mas em Trindade encontrei alunos que fizeram a diferença. Conversei com eles por horas, ouvi muitas histórias, dei muita risada e por vezes segurei firme a vontade de chorar.
No domingo, dia de aplicar provas, pedi que todos ficassem na sala, pois lhes falaria por uns minutos. Então abri meu coração: dei-lhes algumas palavras de motivação, agradeci pela oportunidade e revelei o quão AFETIVA foi aquela viagem para mim. O professor que partia para Recife não era mais a mesma pessoa que chegou ali um dia antes.
E é isso que eu chamo de afetividade. Os seres humanos se relacionam, e ao relacionarem-se, afetam-se uns aos outros. Pai e filho, marido e esposa, professor e aluno, entre amigos, colegas de trabalho, e até aquele vizinho que você encontra no elevador de manhã. Somos autores de nossas vidas e de alguma maneira também da vida dos outros. A forma como eu passo pela sua vida, a forma como eu permito que você me afete, as barreiras que impedem que as pessoas se relacionem, tudo isso merece ser refletido. Nas palavras de Robert Musil, "tudo o que se pensa ou é afeto ou aversão".
Como estratégia de blogueiro para ganhar mais comentários e para inspirar a próxima postagem, fica a pergunta: como você tem afetado as pessoas ao seu redor? Tem se permitido ser afetado por elas?
Abraços do Tabuh - http://twitter.com/tabuh
Um comentário:
Huum. Pergunta difícil de responder, hein!
Nunca parei para pensar na maneira como afeto as pessoas, mas sempre penso na maneira como elas me afetam... e acho que é, na verdade, uma grande rede de afetos e sentimentos, de trocas.
Quando você fala em transformação penso que é esse o grande lugar do professor e da escola. ;)
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