Pluralidade Cultural é um dos temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC). Como a sociedade brasileira é formada por diversas etnias, a pluralidade cultural é um tema especialmente importante. O desafio é respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro, incentivando o convívio dos diversos grupos e fazer dessa característica um fator de enriquecimento cultural.
Abordar sobre a diversidade cultural existente do Brasil, é uma condição fundamental para a construção de um modelo educacional que tenha objetivos de edificar uma realidade social igualitária para o país. A sociedade brasileira é formada não só por diferentes etnias, como também por imigrantes de diferentes países, portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, italianos, alemães, poloneses, húngaros, lituanos, egípcios, sírios, libaneses, armênios, indianos, japoneses, chineses, coreanos, ciganos, latino-americanos. Sem contar com a diversidade religiosa presente no espaço territorial brasileiro que abrange os católicos, evangélicos, batistas, budistas, judeus, muçulmanos, tradições africanas etc. Nesse contexto, o contato constante entre os mais diversos grupos culturais já é uma característica de nossa brasilidade. Porém, é valido ressaltar que, apenas reconhecer as diferenças regionais, culturais ou lingüísticas não é o bastante para a consolidação de um novo Brasil.
Ao nos referimos sobre o pluralismo cultural na educação brasileira, é de fundamental importância que, além de retratarmos as convivências entre as diferentes etnias e costumes existentes em nosso cotidiano, procure que o aluno também compreenda que o Brasil é formado por um amalgama cultural, portanto respeitar e valorizar essas culturas, também é uma forma de exaltar a riqueza cultural do próprio Brasil. Além disso, necessitamos refletir sobre a desigualdade e a exclusão social que ainda faz parte da realidade do país e que se agrava cada vez mais. Logo a crítica política se torna indispensável nesta abordagem científica.
Conhecer o pluralismo cultural pode-se dizer que é uma tentativa de romper com as desigualdades sociais e exclusão social que tanto faz parte do nosso cotidiano, devido ao processo de aculturação presente desde o inicio de nossa história. “Somos obrigados a reconhecer que as primeiras linhas de nossa brasilidade foram escritas com as tintas do desrespeito e da rapina”. (Antonio Mesquita Galvão). Pois bem, essa multiplicidade arraigada a historia cultural do país é um tema demasiadamente delicado, isso se dá, devido ao alto grau de adoção aos padrões europeus em nossa concepção de mundo e também a certos mitos que diz respeito a uma “democracia racial” no Brasil. Ora desde a “invasão européia nas terras tupiniquim” vários foram os projetos de imposição cultural estabelecido em nosso povo. Por isso que, reconhecer e respeitar não basta, precisamos aceitar que o pluralismo cultural está arraigado em todos nós. Somente assim, iremos negar toda essa mecânica de discriminação que tanto atrapalham o exercício da cidadania da população brasileira.
Para construirmos uma nova realidade, temos que contar com a elaboração de um plano educacional voltado para a constituição de indivíduos sociais, conscientes com o exercício da cidadania e comprometidos com padrões realmente democráticos. Como o próprio jornalista João Ubaldo Ribeiro afirmou: “O que nos falta é educação”. Para termos outra realidade, temos que mudar a principal matéria prima do Brasil, o povo. Temos que nos reconhecer como brasileiros, e principalmente temos que nos aceitarmos como realmente somos, ou seja, fruto de um amalgama cultural. Não somos índios, tampouco europeus, muito menos africano, somos brasileiros. E cabe ao brasileiro reconhecer isso.
Herdamos a língua portuguesa dos brancos, junto à organização social, jurídica e administrativa. O conhecimento científico e artístico e a religião judaico-cristã também foram aspectos que foi somado aos nossos princípios culturais, mas não foram somente a matriz branca que deixou legado cultural. Ao mesmo tempo em que estamos tão europeizados, muitos de nós, as vezes não querem notar as nossas facetas indígenas, que em nosso cardápio se manifesta com a mandioca, com o milho, com o guaraná; enfim, e o que dizer desses objetos: a rede de dormir, a esteira, cestos; e como podemos explicar o nosso vocabulário contendo algumas palavras de origem indígena como: abacaxi, amendoim, caju, jacaré, tatu, urubu. Paralelo a todo esse contexto, não se pode negar as nossas heranças provenientes das senzalas. Alimentos como a cocada, o pé-de-moleque, o vatapá, o acarajé, o caruru. Isso sem mencionar algumas palavras que citamos em nosso dia-a-dia: banana, caçula, xingar, fubá, moleque, cachimbo, cachaça.
Aceitar que somos brasileiros é a principal problemática que o presente estudo propõe. E para obter soluções fecundas, precisamos debater sistematicamente sobre os processos educacionais brasileiros, tendo em vista os parâmetros curriculares nacionais (PCNs), levando em consideração o tema: pluralidade cultural, a fim de buscar sobre tal abordagem teórica uma forma de adaptação na vida pratica do professor em sala de aula.
A escola é uma ferramenta de singular importância para problematizarmos a realidade cultural do Brasil, porém é relevante que devemos negar essa falsa idéia de que tudo está bem. Temos que ter consciência que silenciar sobre o fato do preconceito ao negro, ao índio ou ao estrangeiro prejudica mais do que ajuda, ora somente pondo a realidade em xeque que vamos poder nos movimentar para mudar tal realidade.
3 comentários:
Acredito que os PCN's abordem a pluralidade cultural de nosso país, porém, tudo isso ainda é muito hipotético, não funcionando na prática.. E quando algo aparece (como o livro didático com "erros de português" tão comentado e julgado pela mídia) com o objetivo de começar a mudar essa nossa realidade, surge a elite intelectual para ditar regras e valores que nunca vão favorecer o povo como um todo, portando, concordo com vc que a escola deve ser o principal lugar de discussão, como diria uma querida amiga minha "os primeiros revolucionários são os professores", sendo assim, não há lugar melhor pra se começar uma revolução educacional que valorize toda e qualquer cultura de nosso país.
Acho o debate muito importante.
Me lembro do Eduardo Galeano, dizendo sobre a condição latinoamericana: "somos uma caricatura feia da europa e precisamos decidir se continuamos sendo ou se seremos nós mesmos".
Acho que a identidade cultural não é escolha e apenas construção, por isso acho impossível moldar ou mesmo querer "formar" nisso.
Se educarmos, no sentido mais amplo da palavra, teremos automaticamente essas questões levadas em conta. E ainda outras que estão em voga hoje em dia.
E é preciso lembrar sempre que a cultura européia faz parte de nós e portanto ser culturalmente similar aos europeus é legitimamente brasileiro.
Uiuiuiu escola espaço de revolução? Professor revolucionário? Tenho minhas reticências qt a isso, mas aí é outro papo.
Ao circular em algumas escolas de ed. básica percebi q para muitos alunos ela é um PALCO DE VISIBILIDADES. A prioridade dos estudantes não é CONHECER algo, mas sim serem RECONHECIDOS como diferentes... Não dá p/ negar a busca por uma identidade multicultural, a bronca é qd esse investimento se esgota na imagem/aparência e não se amplia p/ a busca de sentido/significado.
Parabéns pelo texto, Wallace!!
PS. Esse Rei deve tá feliz p/ caramba com amigos tão competentes e dedicados. =)
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