Zine Pasárgada
foi um Fanzine cultural e educacional que se propôs divulgar os mais diversos tipos de expressões artísticas e os mais variados assuntos.

O jornal Pasárgada teve 3 edições impressas e distribuídas na cidade de Piracicaba/SP e está guardado, junto com outras idéias, no limbo da falta de tempo e dinheiro.

O blog retomou a proposta do Zine e abriu espaço para diversidade de idéias e de expressões.

Hoje o blog acompanha o jornal e as atividades estão encerradas.

Foi uma grande satisfação ser um dos amigos do Rei.

Fábio

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Marias, vadias e livres.

Pra cada virgem Maria, uma Madalena. E todas são vítimas.

Vítimas de um sistema social onde tudo ainda é novelizado, talvez por culpa das próprias novelas e romances e a dificuldade de distinguir isso da realidade (maldito bovarismo!), talvez laivos do maniqueísmo, talvez nada dessas coisas. Define-se, na maioria das vezes, as pessoas em dois pólos: mal ou bom, amigo ou inimigo, justo ou injusto, certo ou errado, moral ou imoral, religioso ou ateu, e, no caso nas mulheres, triste isso, ainda existe mais uma classificação.

Por mais que se negue, existe, e é só pensar em rodas de conversas compostas por homens, ou até mesmo por mulheres, observá-las e verá, que ou as classificam de putas ou de santas.

Colando da wikipédia, "O marianismo, no sentido sociológico, é compreendido como um estereótipo derivado do culto católico feito à Virgem Maria, e aparece na América Latina sobretudo, como "a outra face do machismo"". Deriva-se da visão bíblica da mulher casta, pura, submissa, recatada, "do lar", obediente e todo o valor que há nessa. A mulher perfeita segundo o cristianismo*. Em diversos trechos** do livro sagrado cristão está presente a desvalorização da mulher através de uma supervalorização do sacro. Parece confuso, mas alguns versículos podem ajudar a visualizar:
"Vocês, (…) mulheres, sejam submissas a vossos maridos, a fim de que, mesmo se alguns recusarem acreditar na Palavra, eles sejam convertidos, sem palavra, pela conduta de suas mulheres, levando em consideração vossa conduta pura e respeitosa" I Pe 3:1 (ler até o versículo 7)

De forma contrária, existem as "vadias". E ainda dentro do "quase maniqueísmo", quanto mais uma mulher faz sexo, pior é sua índole. Hoje, em tempos de "liberdade sexual", por mais que a mulher (em teoria) possa escolher seus parceiros e transar com quem bem entender, é obrigada a pagar o preço da rotulação ainda existente. A mulher que faz mais sexo, segundo essa lógica, é usada (porque claro, o homem usou e abusou dela sem que ela sentisse qualquer prazer e tenha feito isso por puro hedonismo. Ela nao tem esse direito!!!), portanto, tem menos valor. A mulher "vadia" é objeto, é provocativa, é vulgar, não merece respeito. Essa é a lógica do patriarcado!

E... o que o marianismo e as vadias tem em comum? As duas rotulações são feitas de forma a calar a mulher, arrancar a sua voz e, de forma ou outra, submetê-la ao domínio masculino. A partir desse pensamento, de "colocar a mulher em seu devido lugar", abre-se espaço pra outros diversos tipos de agressões. É mais fácil seguir a lógica do "cale-se" do que enxergá-las (enxergar-nos) como seres plurais, autônomos, etc, etc.

Basta. Somos plurais e, acima de tudo, livres. Livres em conduta e livres de rótulos. Ao menos em teoria. Cabe agora, não só a nós, transformar isso em realidade.

Citando uma blogueira, é estranho que "em plena era do tesão, minha libído ainda é subversão". 

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* É obvio que existem x outras religiões machistas, mas prefiro me prender àquilo que está mais próximo, porém, menos visível.

** Cl 3:18; I Tm 2:11-15; 1 Co 18:34; etc.

*** Confusão de idéias, mais uma vez. De qualquer forma, não acho que isso deslegitime o discurso, mas peço que tenham paciência. Isso acontece toda vez que resolvo abordar um novo assunto. Não quero ser impositiva, mas acho importante abrir espaço para esse tipo de reflexão.



**** Sobre a imagem: Lilith é chamada demônio. Segundo a Cabala, porém, teria sido a primeira mulher de Adão, não feita de costela, como Eva, mas da terra, como ele. Não aceitou sujeitar-se ao marido, e, por conta disso, foi "transformada" em demônio. É acusada também de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido, que, segundo meu próprio ver, nada mais é que a liberdade do livre-pensamento.

Julia
http://meusfigos.blogspot.com

2 comentários:

Tabuh Paz disse...

Como diz a música, "não sou freira nem sou puta"! Me incomoda esse suposto maniqueísmo do sexo e da afetividade. Ou somos bons ou ruins. Hoje mesmo vi um vídeo no YouTube onde um pastor orientava seus fiéis sobre sexualidade - definitivamente seus conselhos não servem para mim. Abraços!

Patrícia Olandini disse...

E dá-lhe Lilith!