Zine Pasárgada
foi um Fanzine cultural e educacional que se propôs divulgar os mais diversos tipos de expressões artísticas e os mais variados assuntos.

O jornal Pasárgada teve 3 edições impressas e distribuídas na cidade de Piracicaba/SP e está guardado, junto com outras idéias, no limbo da falta de tempo e dinheiro.

O blog retomou a proposta do Zine e abriu espaço para diversidade de idéias e de expressões.

Hoje o blog acompanha o jornal e as atividades estão encerradas.

Foi uma grande satisfação ser um dos amigos do Rei.

Fábio

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Androcentrismo cotidiano e implícito


Quando eu ainda namorava, algumas coisas me irritavam profundamente, não só no relacionamento em si, mas da perspectiva pela qual os de fora o caracterizavam. Ou melhor, como ME caracterizavam.

Me ditavam "Ju do Rafa". Não por eu ser alguém apagada no nosso relacionamento, por ser omissa ou submissa (e mesmo que fosse), e sim por culpa da noção de patriarcado que parece ser instrínseca à nossa sociedade.

Ser identificada como pertencente à alguém é algo que eu aprendi a não aceitar. Sou uma pessoa, um conjunto de memórias, experiências, características próprias e peculiares e, por mais fútil que seja pautar alguém por isso, características físicas minhas. Sou identificada facilmente por eu mesma, não preciso que me encham de "tags" de posse.

Que me chamem de "Ju, a gorda", "a chata", "a melancólica", "a radical", mas nunca como propriedade de outrém. Se tem alguém a quem eu pertenço é a minha própria natureza, essência e consciência.

Precisa começar a brotar em nós, todas e todos, a ideia da emancipação. Minha essência e meu corpo são o MEU jardim. Sua essência e seu corpo são o SEU jardim. Por mais que dois jardineiros se encontrem e resolvam contemplar o do outro, mutuamente, o jardim nunca deve deixar de ser de quem é.

O meu corpo é um jardim, a minha vontade o seu jardineiro.
William Shakespeare

Eu não sou a Ju de ninguém. Eu não sou a extensão de ninguém.
http://meusfigos.blogspot.com

9 comentários:

Edson disse...

eu, apesar de estar do lado confortável da moeda, sou totalmente a favor disso. a submissão, pra mim, demonstra fraqueza da mulher. é, no mínimo, broxante. saber que em pleno século XXI, as mulheres renegam o direito de serem livres por vontade própria, por serem machistas... ah, é demais pra minha cabeça.

Alfie disse...

bla bla bla feminista chato. as vezes a gente chama a menina de menina do X só pra diferenciar ela de uma homonima. E aih? vai ficar se remoendo por isso? ajuda as criancas passando fome... muito mais importante. mesmo assim te amo ju!

Unknown disse...

mas quando eu namorava eu era chamado de "Fábio da fulana", especialmente entre os amigos e família dela... e aí, onde está seu Deus agora? Oo

Unknown disse...

Não é só com pessoas.

JÁ fui o Rodrigo do Gol, do Kadett e por aí vai...

Tabuh Paz disse...

Juliana, eu estava inspirado a chegar aqui e colocar um comentário super compatível com o espírito do seu texto, mas ler esses quatro comentários me tiraram a inspiração... risos... Mas é isso, eu concordo com o que você disse, acho que não existe essa história de "tampa da panela", "metade da laranja", somos inteiros e os outros (assim, no plural) nos complementam. Abraços!

Julia disse...

Alfie,
esse "blá blá blá" feminista pode ser chato, mas foi a minha forma de expressar e mostrar o que eu consigo enxergar por trás disso. E desconstruir alguns pensamentos sao tao importantes quanto ajudar crianças passando fome ;)

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Fábio,
num grupo onde a menina tem maior partipaçao, como a família da mesma, normal. Num grupo onde o cara tem maior participação, como a família e amigos unicamente do mesmo, normal.

O que me intriga é que em grupos de amizade em comum dos dois, rodas sociais onde os dois são integrantes ativos, é comumente visto a mulher sendo associada como um pertence do homem.

De qualquer forma, mesmo que fosse de outra forma, o homem sendo associado como pertencente à mulher, me posiciono contrariamente à essa prática.

E quanto ao meu deus, não sei onde foi parar, rs.

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Rodrigo,

E apesar de ser uma associação feita à algo que LHE pertence (um objeto), ainda mostra a facilidade que temos, todos e todas, em caracterizar TAMBÉM as pessoas por seus bens. O que não deixa de ser horrível.

Julia disse...

Edson,

Apesar de existirem mulheres machistas, é difícil condená-las por isso quando, desde pequenas, foram ensinadas a se sentirem menores e inferiores, sendo criadas para serem seres "meigos, doces, angelicais e maternais".

É muito difícil falar em liberdade de escolha em uma sociedade pautada por tanta luta de classes. A relação de poder "homem > mulher" ainda existe, foi algo construído socialmente, e dar um grito de BASTA à isso desperta consequências horrendas.
Aqui no http://machismomata.wordpress.com você pode ler, por exemplo, o caso de uma mulher que foi espancada pelo marido (nao tenho certeza se também morta) por recusar-se a preparar-lhe um prato de comida.
E agora, como fica a escolha de não ser submissa? Complicado, não? =/

Ju Villacorta disse...

Bom texto Mulher!

Concordo e compartilho o seu desabafo. Mas eu tenho uma exceção a essa "regra", eu SÓ aceito ser a "Ju, a filha de Augusto". Pronto.
Mas de namorados, eu passo. Sempre me imponho, sou chata e faço questão de deixar claro o meu "conjunto de memórias e características".

Eu geralmente, sou "Ju, a chata". ;)

Tabuh Paz disse...

Julia, me perdoa por te chamar de Juliana? :$