Zine Pasárgada
foi um Fanzine cultural e educacional que se propôs divulgar os mais diversos tipos de expressões artísticas e os mais variados assuntos.

O jornal Pasárgada teve 3 edições impressas e distribuídas na cidade de Piracicaba/SP e está guardado, junto com outras idéias, no limbo da falta de tempo e dinheiro.

O blog retomou a proposta do Zine e abriu espaço para diversidade de idéias e de expressões.

Hoje o blog acompanha o jornal e as atividades estão encerradas.

Foi uma grande satisfação ser um dos amigos do Rei.

Fábio

domingo, 3 de julho de 2011

O livro é melhor que o filme? (ou vice-versa)


Olá amigos do rei.

Estava eu e Fábio Paiva conversando (há, aproximadamente, um mês) sobre o escritor português José Saramago (1922 - 2010) que eu, particularmente, acredito ser um dos maiores escritores em Língua Portuguesa do mundo, desde então surgiu a ideia de um post sobre ele e seu livro mais conhecido, Ensaio Sobre a Cegueira, que originou, também, um filme que leva o mesmo título dirigido por Fernando Meirelles, importante cineasta brasileiro.

Ensaio Sobre a Cegueira foi um livro escrito por Saramago em 1995 e tem a narrativa girando em torno de uma cidade que, aos poucos, é acometida por uma cegueira branca que ninguém tem ideia de onde se origina, o livro faz uma clara crítica aos frágeis valores da sociedade.
Esse é um daqueles livros que você não consegue ler muitas páginas de uma vez (mesmo que queira), suas descrições são muito angustiantes, tornando o livro incomodo, tirando as pessoas de suas zonas de conforto e fazendo-as refletir:

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."


Como o escritor português constrói a narrativa é um capítulo a parte, poucos parágrafos, pouca pontuação, falas entre vírgulas, características que tornam Saramago ainda mais brilhante.

Imagine a dificuldade de Fernando Meirelles para a adaptação cinematográfica...

Não é fácil adaptar 300 páginas para apenas algumas horas de filme, porém, Meirelles fez isso muito satisfatoriamente. O filme me angustia, principalmente, pela falta de sons e pela “névoa” que parece não sair da tela, há sempre uma sensação de que nós é que estamos ficando cegos, uma situação meio desesperadora e intensa, muito parecida com as sensações que temos ao ler o livro.
Saramago sempre foi resistente em permitir que seus livros fossem adaptados para o cinema, porém, em 2008, Fernando Meirelles dirigiu Ensaio Sobre a Cegueira, rodado no Brasil, Canadá e Japão e contando com atores de diferentes nacionalidades. O filme abriu o Festival de Cannes em 2008 e foi bem recebido tanto pela crítica quanto por Saramago que declarou estar tão feliz de ter visto o filme como estava quando acabou de escrever o livro e que agora conhecia a cara de suas personagens.

Ensaio Sobre a Cegueira é de uma beleza angustiante (como já foi dito) pois mostra exatamente aquilo que não queremos ver, tanto o livro quanto o filme merecem ser vistos. Esse é um bom exemplo de adaptação cinematográfica que deu certo, Meirelles não deixou de passar o sentimento mais intenso do livro de Saramago através da linguagem cinematográfica, isso mostra que é possível sim haver boas adaptações de livros para filmes.
Precisamos descontruir aquela velha ideia de que o livro é melhor que o filme ou vice-versa e entender que as duas linguagens são diferentes em suas belezas e especificidades e mais, difíceis (senão impossíveis) de serem comparadas, portanto, quando foi assistir a uma adaptação para o cinema, busque não apenas o que diferencia o livro do filme, mas sim, o que os une e como o diretor mostra aquilo que o escritor quis passar, quis dizer. Não há melhor ou pior, há características próprias de uma e de outra o que torna a adaptação possível, você não gostaria de ir ao cinema e ver exatamente o que você leu no livro, não é mesmo?


Maria Fernanda - [SOM ALTERNA] [.poegrafar]

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